quarta-feira, 6 de novembro de 2013

que é o abismo
se não uma finitude
em permanente desfecho?

que pode significar
o medo, a foice
a solidão

todos os horrores
possíveis
e inimagináveis

todos os monstros
guerras, naufrágios
terremotos

e toda sorte
de obstáculos

para quem enfrentou
o teu amor?

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nesse cavalgar insensato
que as horas transcende
o delírio guardado
de um beijo distante 

nessas pernas quentes
que o vento desenha
o instante selado
no movimento divino

nessa boca vermelha
o intento de um louco
demente levado
a prazeres infindos

nessa reza constante
tua carne presente
é que me torna um demônio
num céu sem inferno.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Cansado de inventar vidas
como um ator que nunca morre
e quanto mais o tempo lhe agoniza
muito melhor o personagem

cansado de derramar sonhos
como cachoeira que nunca seca
e quanto mais a água lhe inflama
menos pedras lhe seguram

cansado de crer e descrer
no humano, na paz, no afeto
como quem nasce e renasce

liberto de tantas mortes.
Eu queria ser desses
que nunca aprendem
a quem a vida
não consegue ensinar

queria ser como
os que gozam e não sentem
como os que partem
sem nenhum anseio de voltar

mas estou do lado de cá
onde a visão encurta as distâncias
e ofusca a imensidão
aqui de onde partem
múltiplos caminhos

e um poema
é quase sempre
a única saída.
Nas bases estreitas da escuridão
castelos mágicos e
naúfragos inexplicáveis
trafegam tormentas
despencam vestígios
celebram nefastidões

nas bases infindas da imensidão
sonhares místicos e
mistérios inigualáveis
derramam oceanos
intentam desertos
confessam ingratidões.
Pensar na vida
como um jazz
onde a próxima nota
é sempre imprevisível
mesmo desafiando
a harmonia das coisas
o som surge sempre
e o silêncio evidencia
o ritmo encantado
de um coração que sonha
sobre todas as coisas

A pesar de tantas mortes
pensar na vida
como um jazz
e dançar
ao sabor das horas
como se jamais
houvesse um fim
como se jamais
houvesse um início
Depois, bem depois
que todos os pássaros pararem de cantar
e o vôo seja apenas mera memória
quando a luz não mais iluminar
o humano desaparecido da história


depois, bem depois
das guerras infames em nome do poder
desastres intergalácticos por toda parte
quando a vida às vésperas de derreter
e negada nas constantes viagens a marte


depois, bem depois
da atmosfera imposta pelas horas
de toda e qualquer coisa em suspenso
quando esses versos forem sobras
de um plano emocional intenso

ainda assim será possível comprovar a existência
de um sentimento de proporções incomensuráveis.
Rasgar o verso no papel
como quem rasga o peito
com a força que a vida exige
para fazer o sonho acontecer

Tecer palavra a palavra
como quem tece com os dias
a malha mágica que a vida exige
para fazer a poesia reviver

Forjar grão a grão
ao longo do tempo castelos de areia
que a água da vida exige
para fazer a gente se refazer.
O que fazes de torpe
não mata, só fere
o que proclamas em vão
nas amarras exatas do irreal
não mata, só fere
esse derramar
de vaidades insanas
semente da agonia vindoura
não mata, só fere
esse desejo incontido
de tudo controlar
com único sentido de nada
não mata, só fere
bem como o esforço
para acertar, por certo
incerto e efêmero
não mata, só fere
mesmo quando tua boa
disserta verdades de pedra
teu corpo desmente

e tudo isso
não mata, só fere
Depois do fim do mundo
o fim do ano eclode
reflexivo
insensato
quase inesperado
no fim da tarde
nas últimas horas
no fim do sonho
as célebres senhoras
guardiãs de tudo
e eu
farto de tanto fim
de tanto refazer o verso
no verso do papel
espero tão somente a paz
planejada para outras vidas
as outras tantas incessantes
porque o fim já começou
e ele nunca finda.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Todo dia
enfrentar a batalha
e recomeçar
a procura singular
no âmago dos porquês

Como  qualquer humano
ressignificar
mesmo que reticente
mesmo que inconsciente
a mola que move
o todo do existir

E a rima inexata
que se faz do transbordar
o maior de todos
os mistérios.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Antes das luzes da aurora
do renascer do sol
da persistência das horas
vem o teu arrebol
de sabores infindos
e múltiplos perfumes no ar.

Antes mesmo de todas as coisas
dançar com tuas flores
estar no teu sonho
entrar no teu ser
nascer e morrer
do mais puro e santo
prazer.

domingo, 4 de novembro de 2012

Um parto, insisto
é o que tem sido
Em parte, resisto
não preciso entender
Quem parte desiste
da rima incerta
para resplandecer

Tão tarde te escrevo
[nunca vou aprender]

domingo, 30 de setembro de 2012

Vai
rasga a vida como ave no céu
escreve teu verso no tempo
poesias apoéticas no espaço
alimenta teu sonho
despreza o que for necessário
e aceita a morte
como parte da vida.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

às vezes
somos feito o som estridente
das rodas do trem sobre a ferrovia
sempre de partida
sempre de chegada
quase sempre com uma urgência
muitas vezes ignorada.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

e se eu fosse direto ao ponto

se não gozasse também

ao transcorrer tuas veias
nos olhos cerrados
nas pernas tremendo

se não estivesse no éter

não molhasse teus olhos
não abrisse teu riso
não apertasse o teu ventre

se eu fosse direto ao ponto

se só pensasse em mim
não louvaria tua pele rubra
teus peitos macios
teu dorso de fada

se não comesse com os olhos
não brincasse de vento
não sonhasse com a luz
não arranhasse o momento

e se eu fosse direto ao ponto


se não estivesse em mim
muito antes de estar em ti
e sermos tanto?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

teu corpo feito fogo
queimou meu peito
incendiou minha alma
retesou meus sonhos

teu corpo feito ar
elevou meu vôo
oxigenou meu sangue
transgrediu artérias

teu corpo feito terra
solidificou meu riso
fertilizou prazeres
esculpiu encantos

teu corpo feito água
afogou meus medos
projetou tempestades
e inundou meu ser

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

uma alma vaga
e esse gosto lento
de aromas indecifráveis.
sempre com a mesma cara
e não obstante
o mesmo senso de indecisão.

uma calma rara
e o desgosto do tormento
de sonhos insuportáveis.
a realidade desampara
o delírio constante
às vésperas da inundação.

uma paz forjada
com promessas de vento
e tempestades inevitáveis.
a nau que antepara
num breve instante
o mar revolto e a imensidão.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Enquanto me olhavas
com teus enormes olhos negros
meus medos tornaram-se realidade
e transformaram-se em desejo
Um desejo tão intenso e profundo
que trafega talvez incontrolável
que invade porões antigos
memórias de uma época futura
habitada por idealistas terminais
E assim espero que teus grandes olhos
me guiem a um ponto de paz.

sábado, 29 de outubro de 2011

Ruía o sol
no fim no dia
fugiam as cores
que eu não quis beijar
forjava fantasmas e companhias
e as flores
perdidas na escuridão

ruía a espera
da alegria
fugiam os sonhos
que eu não quis tentar

forjava amor e rebeldia
e as noites
envoltas em solidão

ruía a paz
e o que havia
fugiam as horas a passar
forjava o que me convinha
e a vida sem fim,
a esmo
na amplidão